20 de junho de 2013

O discurso mudou


Quem acompanha na mídia os noticiários sobre as manifestações realizadas nas ruas do país, pode perceber que houve uma nítida e clara mudança no discurso utilizado. Se antes, tratavam-se de vândalos e baderneiros os manifestantes que provocavam policiais que eram obrigados a impor ordem, usando cassetetes, spray de pimenta e balas de borracha, hoje esses mesmos manifestantes são estudantes e trabalhadores que lutam pelos seus direitos de forma pacífica.

Eles não imaginavam a proporção que tudo isso iria tomar. Eles menosprezaram o poder do movimento e criticaram os protestantes. Eles são não só a mídia, mas o próprio poder público. Governantes também tiverem que mudar seus discursos. Foram obrigados a voltar atrás e deixaram de atacar os opositores. Afinal, quem são os opositores? É toda uma nação.

Em uma breve análise desse discurso midiático, separei alguns trechos do Jornal Nacional, um dos principais jornais televisivos do país. É fácil e ao mesmo tempo impressionante perceber como a mesma mídia, que ataca e critica o comportamento dos protestantes, selecionando imagens de violência, da ação dos radicais, muda seu discurso dias depois, quando o movimento de rua cresce e toma força.

Vamos aos fatos:

Quinta-feira, 13 de junho de 2013 – Primeiro Dia da Manifestação do Movimento Passe Livre no Rio:
Fala da Repórter Bette Lucchese, em cobertura ao vivo durante telejornal:
“Manifestantes fazem provocação o tempo todo. A confusão começou há pouco, quando os manifestantes jogaram pedras em policiais militares que tiveram que reagir. Vocês estão vendo que jogaram fogo em lixo. Os policiais tiveram que usar cassetetes, tiveram que usar a força contra os manifestantes. Neste momento, a avenida Presidente Vargas está interditada e a gente espera que esse tumulto seja brevemente controlado.”

Segunda-feira , 17 de junho de 2013 – O Dia da Manifestação mais emblemática.

A mesma repórter que noticiou ao vivo o vandalismo dos manifestantes, que provocavam os policiais, voltou às ruas para contar como foi o movimento. “Pelo caminho, manifestantes distribuíram flores. Aos poucos, o protesto contra o aumento das passagens e custos de vida foi ganhando mais participantes”. Sorrindo, Bette Lucchese narra do helicóptero a movimentação dos manifestantes vestidos de branco: “a avenida foi completamente tomada, uma imagem impressionante. Estudantes e trabalhadores caminhavam pacificamente carregando bandeiras do Brasil e muitos cartazes. A maioria dos manifestantes se dizia sem partido político. Bandeiras partidárias eram vistas em pontos isolados do protesto. A polícia acompanhou a multidão sem que houvesse qualquer confronto”.

No final, mais uma vez ao vivo, ela volta dizer que após o movimento pacífico, um pequeno grupo seguiu para Assembléia Legislativa e transformou as ruas em uma praça de guerra.


Chama atenção também o número de matérias relacionadas às manifestações em todo país nessa mesma edição do Jornal Nacional. O movimento ganhou força o bastante para ser manchete de jornal, em plena Copa das Confederações.

Hoje, dia 20 de junho, o convite feito nas redes sociais diz “Quinta-feira será maior. Eu Vou.” e promete mais participantes – estudantes e trabalhadores – todos reivindicando por verdadeira mudança no país.

18 de junho de 2013

#VEMPRARUA


O que começou com uma manifestação contra o aumento das passagens nos centros urbanos, tornou-se um movimento contra o descaso dos governos – municipal, estadual e federal – nas questões básicas e essenciais de uma nação: segurança, educação e saúde. O povo foi para rua, com cartazes de “O gigante acordou”, “Verás que o filho teu não foge à luta”, “Se o transporte é público, por que pagamos?”, “Eu iscrevo errado porque a Diuma não deu educação”, “Se seu filho ficar doente, leve-o ao E$tadio” e por aí vai.

Há tempos não se via um movimento de rua, com a população ocupando os principais pontos urbanos para protestar contra aquilo que sempre incomodou, mas que acabava se conformando. Há tempos não se via uma mobilização generalizada, espalhada pelas principais cidades, ou pelo menos, as mais emblemáticas na luta a favor da democracia.

O que se viu pela TV ontem, dia 17 de junho de 2013, o povo invadindo o Planalto Central, em Brasília, sem vandalismo (em princípio) é a representação de um país que “não quer só comida”. Se é um ato político, não importa. Se alguns partidos querem se vangloriar, ganhar espaço na mídia, estremecer os pilares dos palácios centrais, enfraquecer a imagem dos atuais governantes, isso tudo gerou um movimento. Isso cutucou o “gigante”.

Há tempos não se via brasileiros cantando hino nacional com lágrimas no rosto sem ser por conta de um jogo da seleção. Estamos na Copa sim! E mesmo sendo a Copa das Confederações, o mundo está de olho no país. E não é que o brasileiro dessa vez foi esperto? Se os nossos governantes fazem vista grossa às manifestações populares, o mundo está vendo a “bagunça generalizada”. Será que é essa imagem que os governantes querem passar do Brasil para o mundo? Um povo descontente, inconformado, revoltado?

Mas no meio deles, há também os radicalistas, os “sem-noção”, os vândalos que destroem o patrimônio público, tacam fogo em ônibus, carros, em agências bancárias e atacam policiais. O que adianta sair pelas ruas vestidos de branco, com rosas na mão, se acabam numa praça de guerra? Será que toda revolução é sinônimo de sangue e suor? Mahatma Gandhi veio ao mundo provar que uma revolução se faz com a não-violência.

“Não são por 20 centavos, mas sim pelo descaso”, o princípio é esse, a manifestação é justa, só resta consciência de todos para que todo esse esforço gere um resultado, uma resposta, uma solução. Eles sim me representam, não os felicianos engravatados do Planalto Central.