Resolvi resgatar umas fitas VHS antigas, com gravações da
família. Tirei a poeira do velho videocassete e coloquei na TV. Revi momentos inesquecíveis,
recordei passagens que nem lembrava mais e matei a saudade de entes que já não
estão mais conosco agora.
Mas o que me chamou atenção foi me ver ainda criança. Por um
lado, observei com um olhar de adulto, achando graça e me divertindo com as
palhaçadas, as brincadeiras e o meu jeito de ser. Por outro, enxerguei a mesma
pessoa que sou hoje, com alguns comportamentos comuns até hoje. É natural
sermos críticos conosco. Por várias vezes, me peguei pensando “nossa, como fui
capaz de fazer isso, ou falar isso...”. A autoanálise sempre nos faz pensar que
podíamos ser diferentes, agir diferente.
Por que não gostamos de nos ver em vídeo ou ainda quando
escutamos a nossa própria voz em uma gravação? Por que não nos aceitamos do
jeito que somos? Se vivêssemos 24 horas diante de um espelho, certamente não
seríamos nós mesmos, porque iríamos nos policiar as 24 horas. Pelo menos é essa
sensação que tenho.
É claro que em certos momentos somos vaidosos. Escolhemos a
melhor foto para postar no perfil, escolhemos a melhor roupa para festa,
cuidamos da aparência, do corpo etc., mas acima de tudo somos críticos com a
beleza. E ainda contamos com a opinião alheia para amenizar a insegurança.
Às vezes, buscamos mudar certos comportamentos,
principalmente quando esses afetam outras pessoas. Mas a personalidade é algo
imutável. É a velha história da máscara quando cai. Paulo da Viola encerra o
assunto definindo: “eu sou assim, quem quiser gostar de mim, eu sou assim...”
Depois de
alguns carnavais longe do Rio, esse ano volto a passar na cidade. Se pudesse,
aproveitaria o longo feriado para descansar, em lugar tranqüilo, longe da
confusão, mas outras prioridades me impediram desse planejamento.
Se o lado
folião clama pelos bloquinhos de rua, por outro lado confesso que não tenho
mais paciência para ruas lotadas, multidões, calor infernal, aperto, pouca
estrutura, som baixo, falta de educação do povo. O programa deixa de ser
divertido e passa ser de índio. Desse bloco, tô fora!
Mas para
não deixar a banda passar, acabo selecionando alguns poucos blocos que valem a
pena ir. A primeira opção é escolher aqueles fixos, que ficam parados em uma
praça ou área suficiente grande para suportar a aglomeração. Assim, você
consegue curtir a música, sem aperto. Outra escolha são os blocos tradicionais
que prezam pela cultura do samba, ou seja, nada de músicas modinhas para o
repertório. Isso só chama público típico de baderna e confusão, porque não
querem curtir carnaval, só buscam bebidas, brigas e pegação.
O bloco
Fogo & Paixão, que citei aqui, não é propriamente um bloco de carnaval, com
músicas típicas, mas pelo menos segue a linha irreverente, com espírito do
carnaval, com as pessoas fantasiadas que só querem se divertir com
tranqüilidade.
O bloco
que mais se aproxima dessa “cultura” do samba de rua é o Cordão do Boitatá, que
sai domingo bem cedo no Centro do Rio. As pessoas capricham na fantasia, levam
seus confetes e serpentinas, e vão com o único intuito de se divertir. Fica
cheio, mas dá para curtir sem precisar passar por perrengue.
Outros
blocos tradicionais como “Bola Preta”, “Carmelitas” (em Santa Teresa), “Barbas”
(Botafogo) e “Escravos da Mauá” são ótimos, mas atraem uma multidão. Tem que
sair de casa já preparado para aguentar alguns contratempos. Sinto falta dos
bailes de carnaval nos clubes. Não estou me referindo a bailes tipo do Scala,
porque isso é outro tipo de público, se é que você me entende. Mas bailes à
fantasia, com banda ou bateria de escola de samba. Só para não dizer que estou
sendo radical, segunda de carnaval vai rolar o baile dos grupos de samba
Casuarina e Bangalafumenga, na Fundição Progresso, na Lapa.
Mas para
quem é do bloco do sossego, o Rio também oferece opções interessantes de lazer
longe da multidão. Além de algumas praias que valem a pena freqüentar, longe da
Zona Sul ou Barra, como Prainha, Grumari (só tem que chegar bem cedo!),
cachoeira do Horto e a trilha para Pedra Bonita são ótimas opções para
aproveitar a tranquilidade que natureza resistente e ainda abundante do Rio
oferece! Verdadeiro Oásis na cidade.
A verdade
é que o Rio respira carnaval, faz parte da cultura carioca. “Quem não gosta de
samba bom sujeito não é. É ruim da cabeça ou doente do pé”. Não é à toa que o
hino oficial do Rio de Janeiro é uma marchinha de carnaval: Cidade Maravilhosa!
Whitney Houston acaba de entrar no seleto grupo de artistas
que morreram inesperadamente porque abusaram de... medicamentos. Ao lado dela, juntam-se
Michael Jackson, que morreu com overdose de Propofol, além do ator Heath Ledger,
encontrado morto em seu apartamento em 2008, também por abuso de medicamentos
(mistura de oxicodona, hidrocodona, diazepam). Ainda não se sabe a causa real da
morte de Amy Winehouse, mas essa possibilidade não foi descartada.
O que chama atenção é o motivo pela qual esses artistas –
com uma longa trajetória de abusos, principalmente de drogas pesadas – têm suas
vidas rompidas, sem mais sem menos. Ok, o abuso de medicamento é tão perigoso
quanto overdose de drogas e bebidas. Mas é como se contássemos uma história
triste de um paciente que conviveu anos com uma doença incurável, fez mil
tratamentos, realizou várias cirurgias, teve sua vida limitada, sem poder
planejar um futuro digno por conta da tal doença e acaba morrendo...
atropelado.
O “tal do remedinho” nos faz pensar que são pessoas que
viveram normalmente, como todos nós, sem exageros, sem intensidade, sem noites
regadas a muito álcool e cocaína, e que em uma infeliz noite resolveu tomar remédio
além da dose certa para “relaxar” um pouco e acabou morrendo.
Não quero dizer aqui que essas pessoas morreriam cedo de
qualquer maneira por conta dos abusos, muito menos que mereciam morrer.
Absolutamente! Fico triste do mesmo jeito, porque são pessoas com grandes
talentos e partiram de forma precoce. De fato, são pessoas que mereciam
cuidados médicos especiais, um acompanhamento psicológico, quiçá psiquiátrico pelo
histórico que conhecemos.
Somos pegos de surpresa, porque são mortes estúpidas, que
com certeza poderiam ser evitadas. Contudo, deparamos com situações extremas,
de pessoas que chegaram ao fundo do poço, capazes de aumentar, por conta
própria e de forma descontrolada, suas doses de relaxantes, calmantes e
entorpecentes com um único motivo: tentar burlar o que é inevitável - a vida!
Eles buscavam a fuga, às vezes, inconscientemente, daquilo que era impossível fugir.
Muitos vão dizer: “mas eles são artistas. Artista é assim
mesmo, vive em outro mundo”...
Estão em
cartaz alguns musicais que valem a pena conferir para quem está no Rio. Em
janeiro, assisti primeiro a estréia de “As Mimosas da Praça Tiradentes”, no
Teatro Carlos Gomes, e depois vi o já badalado “Tim Maia – Vale Tudo”, do outro
lado da praça, no teatro João Caetano.
O primeiro
retrata o universo dos cabarés já em decadência, com performances clichês de
drags e homens, mas com um texto bem humorado. O musical fala um pouco sobre a
história da própria Praça Tiradentes, no tempo em que se dizia que lá era “a
Broadway brasileira”, quando se concentravam vários teatros na região. Mas a
peça vai além, misturando humor com dança.
Já no
segundo, o fenômeno Tiago Abravanel, até então um desconhecido ator e neto de
Silvio Santos, interpreta e incorpora Tim Maia com seus trejeitos e voz
marcante. Mesmo quem não gosta do repertório de Tim Maia, gosta da performance
e da história de vida de um artista que viveu à margem da beleza, mas com um
talento único. É claro que o foco é voltado para o personagem principal do
musical, mas todo o elenco é maravilhoso. São três horas de peça, sem ser
cansativo, diga-se a verdade! No final, Tiago empolga a platéia com um momento “bis”
de show, já sem texto, sem roteiro. Não é à toa que todas as temporadas (já
passou por várias inclusive) ficam lotadas. O texto de Nelson Motta é bem
amarrado, com as histórias bem contadas ao longo da peça, o que faz ser um
musical completo (melhor que o primeiro, inclusive).
Saindo de
teatro, mas não deixando de falar de música, o filme “Música segundo Tom Jobim”
é um deleite aos ouvidos de quem ama a obra dele. Sou suspeito em falar, porque
– para mim - não há dupla melhor que Vinícius e Tom em todos os tempos! Ao
contrário do documentário “Vinícius”, lançado em 2005 e dirigido por Miguel
Faria Jr, que reúne depoimentos de artistas que conviveram com o poeta,
mesclando registros históricos sobre a vida e obra; esse novo filme, feito por
Nelson Pereira dos Santos, mostra a música pela música, sem falas, depoimentos
e narrações. São registros de vários artistas, internacionais e nacionais
cantando versões múltiplas de suas canções, além, é claro, do próprio artista
em diferentes fases da carreira.
De certo
que, à primeira vista, o filme surpreende. Aos potencialmente críticos, Nelson
Pereira deixa bem claro sua verdadeira intenção ao colocar nos créditos finais
uma citação de Tom Jobim: “a linguagem musical basta”. E basta mesmo. Suas
letras, suas melodias nos fazem pensar o quanto a linguagem musical é emblemática
e atemporal. Jobim era um maestro completo e sua melhor expressão artística
estava na... melodia, portanto, nada mais justo homenageá-lo com um filme
diferente, sem deixar de ser completo.
Sempre
apreciei o repertório de Tom, desde pequeno. Por influência dos meus pais, que escutavam
seus discos, cresci admirando as melodias e os arranjos dele, principalmente
porque me chamava atenção seu jeito de tocar num piano que parecia ser tão fácil.
Quando
comecei a estudar piano, tinha apenas seis anos de idade, e na falta de um
instrumento em casa, limitava meus estudos de prática em um pequeno teclado. Passei
alguns anos praticando pouco por conta disso. O sonho de ganhar um piano de
verdade, grande, com um som forte, um teclado firme, parecia bem distante. Até
que, aos doze anos, meus queridos avós me fizeram bela surpresa. Coincidência
ou não, eles me presentearam com o meu piano no dia 8 de dezembro de 1994, dia em que Tom Jobim morreu.
Depois de
18 anos da morte dele (e 18 anos com meu piano em casa), hoje posso dizer que
Tom Jobim é o artista que mais me influenciou nos estudos de música.
Há 50
anos, o Grammy homenageia o conjunto da obra de grandes artistas de todos os
tempos. E esse ano é a primeira vez que a premiação escolheu um artista
brasileiro para receber tal categoria.
Diante da morte precoce de um ícone da música brega
brasileira - o cantor Wando - resolvi rascunhar uma homenagem. Quem nunca
cantarolou os versos do clássico “Fogo e Paixão”, imortalizado por ele?
Eu confesso que gosto de Wando e de outros clássicos bregas,
porque vejo nesse “estilo” musical uma forma de catarse! Para explicar melhor,
vamos a uma breve conferida do significado da palavra catarseno dicionário: “método de purificação
mental que consiste em revocar à consciência os estados afetivos recalcados,
para aliviar o doente dos desarranjos físicos e mentais oriundos do
recalcamento” – quer definição melhor?
São nas letras mais toscas, de mensagens clichês, com
romantismo à beira da fossa total que nos deparamos com os tais “estados
afetivos recalcados” e acabamos nos deliciando e delirando nessas canções, na
melhor expressão “quem canta seus males espanta”! Não só sou adepto a essa
catarse coletiva como incentivo a todos se “permitirem”, deixando de lado
preconceitos com as músicas bregas!
E essa expressão tomou força total com a criação de um bloco
de carnaval inspirado nos clássicos da cafonice que está fazendo maior sucesso.
O nome vem homenagear justamente o clássico de Wando, chamando “Bloco Fogo e
Paixão” e traz em seu repertório novos arranjos para Wando, Fábio Jr, Roupa
Nova, Reginaldo Rossi, Rosana, Beto Barbosa, Chitãozinho e Xororó, Gretchen,
Sidney Magal e por aí vai. Próximo dia 12 de fevereiro, uma semana antes do
carnaval, o bloco vai se concentrar no Largo São Francisco de Paula, no Centro!
E começa cedo: 11h! É imperdível!
Você é luz
É raio estrela e luar
Manhã de sol
Meu iaiá, meu ioiô
Você é "sim"
E nunca meu "não"
Quando tão louca
Me beija na boca
Me ama no chão...(2x)
Me suja de carmim
Me põe na boca o mel
Louca de amor
Me chama de céu
Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!
E quando sai de mim
Leva meu coração
Eu sou fogo
Você é paixão...
Em mais uma frase "filosófica" dita em novela das seis...
A personagem é uma senhora idosa, madura, que resolve terminar o relacionamento com seu parceiro depois de presenciar uma cena tosca de ciúmes e insegurança. Depois de frases do tipo "eu não vou mudar meu estilo de ser e agir por conta da sua insegurança, você que trate de mudar", ela lança mais uma frase de efeito em uma conversa com uma amiga:
- O amor só não basta. Ele é 50% de uma relação. Os outros 50%
é a relação em si, se ela te faz bem, se te completa, se te equilibra. A vida já
é complicada demais para escolher um parceiro que ainda torna tudo mais caótico.
- Então quer dizer que tudo acabou de vez?
- Não sei... mas uma coisa tenho certeza, só volto quando
perceber uma mudança significativa naquela cabeça dura.
obs: não sei se é porque passei a prestar mais atenção nos diálogos e, consequentemente, em suas mensagens, ou se realmente essas mensagens são exatamente aquilo que eu precisava escutar (só confirmando minhas opiniões sobre relacionamento).
Outro dia
escutei em uma cena de novela o seguinte diálogo:
- Estou em
período de adaptação.
- Eu
reparei que o período de adaptação começa quando nascemos e não termina nunca. Todos
os períodos da vida são de adaptação.
- Você tem
razão... e já estamos pós-graduados em adaptação.
Se estamos
solteiros e começamos um relacionamento, estamos nos adaptando. Se passamos da
fase de namoro para casório, entramos em outra adaptação. Se rompemos e
voltamos para o estágio de solteiro (depois de anos), precisamos de uma nova
adaptação.
Isso
acontece em mudança de emprego, de cargo, de moradia etc.
Algumas
mudanças são positivas, mostram novos horizontes, ambições, desafios; já outros
vêm impactar de maneira avassaladora, deixando cicatrizes. Sobretudo, todas as
mudanças nos trazem ensinamentos.
Em cada
fase, o importante é “viver um dia após o outro”, mesmo que seja um clichê. Nada
é tão difícil hoje que amanhã não passe... e dependendo do seu olhar otimista,
você ainda consegue enxergar o lado positivo das coisas. É exatamente o que
busco para mim, todos os dias de “adaptação”.
Às vezes,
tenho vontade de ser mais explícito em meus pensamentos em meu blog, e deixar essa
filosofia barata de lado. Afinal, criei esse blog como uma forma de expor
aquilo que penso... mas ele é público e não pretendo “machucar” nenhum coração
com meus pensamentos.